CGU aponta esquema de 'fura-fila' e outras irregularidades no Hospital Napoleão Laureano, em João Pessoa

Relatório aponta esquema 'fura-fila', em que que diversos pacientes iniciaram seus tratamentos oncológicos sem autorização da Central de Regulação da Secretaria de SaĂșde, realizando pagamentos diretamente ao hospital.

Por Portalvirgulaparaiba.com em 05/02/2024 às 22:34:56

Um relatório da Controladoria Geral da União (CGU) apontou falhas e irregularidades nos atendimentos do Hospital Napoleão Laureano, em João Pessoa. Segundo o documento, foi constatado um esquema "fura-fila" em que que diversos pacientes iniciaram seus tratamentos oncológicos sem autorização da Central de Regulação da Secretaria Municipal de SaĂșde de João Pessoa, realizando pagamentos diretamente ao hospital.

O relatório foi publicado na Ășltima terça-feira (30) e divulgado com exclusividade pelo blog Coversa PolĂ­tica, do Jornal da ParaĂ­ba, nesta segunda-feira (5).

A investigação começou depois de pedido do Ministério PĂșblico Federal, que abriu inquérito para apurar denĂșncias de problemas na unidade.

Em nota, o hospital afirmou que os casos em questão eram de pacientes do interior que, por seu estado de saĂșde, poderiam "sucumbir" na fila. Alegou, ainda que "em muitos casos, o quantitativo de vagas destinadas a pacientes do interior é bastante limitado, restringindo, assim, o atendimento de parte destes pacientes via Regulação de João Pessoa". A defesa também garantiu que isso não causou nenhum prejuĂ­zo a outros pacientes.

A Fundação Napoleão Laureano é a instituição contratada pela Prefeitura de João Pessoa para a prestação de serviços médico-hospitalares e ambulatoriais de alta e média complexidade em oncologia, no âmbito do SUS, para todo o estado da ParaĂ­ba, e, nos Ășltimos trĂȘs anos, recebeu recursos pĂșblicos no montante de R$ 167 milhões.

Hospital Napoleão Laureano é referĂȘncia no tratamento de câncer pelo SUS em João Pessoa — Foto: TV Cabo Branco/Reprodução

O que diz o relatório

O relatório conclui que o fato de pacientes iniciarem seus tratamentos oncológicos sem autorização da Central de Regulação constitui indĂ­cio de que o acesso igualitĂĄrio e gratuito não é garantido pelo hospital.

Segundo o relatório, foram analisados pagamentos ao hospital realizados pelos municĂ­pios de Serraria; Catolé do Rocha; Malta; São José de Caiana; e Princesa Isabel. Constatou-se que os pagamentos foram de despesas referentes a serviços médico-hospitalares e ambulatoriais prestados pelo hospital a pacientes SUS, cujo ingresso deveria acontecer por meio do Sistema de Regulação da Secretaria Municipal de SaĂșde de João Pessoa.

Para a CGU, a prĂĄtica favorece o ambiente de troca de favores, a exemplo da troca de votos para os polĂ­ticos e autoridades municipais que possibilitaram o acesso ao serviço referenciado independentemente da regulação.

Atrasos nos tratamentos e outras irregularidades

Além do esquema de fura-fila, a CGU identificou irregularidades como atrasos e iterrupções nos tratamentos, bem como ocorrĂȘncia de erros de medicação e precariedade nas informações dos prontuĂĄrios dos pacientes.

"Apesar de os atrasos serem constantes na quase totalidade da amostra, em apenas alguns dos prontuĂĄrios médicos da amostra, foi possĂ­vel identificar anotações de profissionais fazendo referĂȘncia a atraso/suspensão de tratamentos e falta de medicamentos no hospital, porém, na maioria dos casos, as informações contidas no prontuĂĄrio foram insuficientes para esclarecer a razão de atrasos frequentes no cronograma das quimioterapias da amostra analisada", registrou o relatório.

Mortes no Hospital Napoleão Laureano

A CGU fez uma anĂĄlise comparativa da quantidade de óbitos de pacientes em tratamento, em 2021, por meio de uma amostra de dez hospitais de referĂȘncia no tratamento oncológico da Região Nordeste, incluindo o Hospital Napoleão Laureano (HNL). O resultado chamou atenção.

Do total de 2.559 pacientes que foram internados no HNL, em 2021, observou-se que 521 pacientes foram a óbito durante o perĂ­odo de internação, correspondendo a um percentual de 20,36%.

Destaca-se que o percentual de óbitos em internações do Napoleão Laureano é o maior entre os hospitais da amostra e representa, aproximadamente, duas vezes o valor percentual médio (10,19%) de mortes da amostra.


Fonte: G1PB

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