MPPB trata esquema de desvio de recursos do Hospital Padre Zé como "organização criminosa´, e considera Padre Egídio como líder

Por Portalvirgulaparaiba.com em 18/11/2023 às 22:53:23

As investigações sobre os supostos desvios e recursos que eram doados para o Hospital Padre Zé, em João Pessoa, surpreendem a cada desdobramento dos fatos. De acordo com a decisão judicial e o processo que o Portal Paraiba.com.br teve acesso, o Ministério Publico Da Paraíba trata o esquema como "organização criminosa" e coloca o suspeito Padre Egídio como um dos líderes desta organização. Veja o documento abaixo.

Conforme o documento, na página três, o MPPB considera que os atos praticados pelo "esquema" de desvios milionários eram praticados pelos próprios beneficiários e tinham a finalidade de destruir a unidade de saúde. "Os principais beneficiários de desvios milionários praticados por uma Organização Criminosa voltada ao esfacelamento de uma instituição de saúde voltada à garantia da saúde dos mais necessitados", diz trecho da decisão.

O líder

Segundo a decisão, assinada pelo desembargador Ricardo Vital de Almeida da 4ª Vara Criminal da Comarca da Capital, cita que é necessário a prisão de um dos líderes da "organização criminosa" para que o grupo não pratique os atos criminosos novamente. Logo, as investigações apontam que o religioso demonstrou um grande controle sobre a "organização criminosa". Segundo apurado pelo MPPB, conclui-se com a análise do papel de Egídio, o qual, operando com domínio do fato, demonstra um nível acentuado de periculosidade e controle sobre a organização criminosa.

"A prisão de um dos líderes da organização criminosa é necessária para garantia da ordem pública, ameaçada pela reiteração delitiva de seus membros, bem como para desestruturar o grupo criminoso, que há muito pratica crimes graves, a fi e obstar a continuidade dessas infrações penais em prejuízo da sociedade", diz trecho do documento.

O Monarca e ditador

Testemunhas ouvidas revelaram, durante depoimento ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público da Paraíba (MPPB), que o padre Egídio de Carvalho, não gostava de ter suas decisões contestadas e agia como "verdadeiro monarca", sob pena de severas punições. Na ocasião, o órgão de investigação considerou o religioso como "ditador".

"Concretamente asseverando, muitas das pessoas ouvidas na fase investigatória afirmaram que Egídio funcionava como verdadeiro "Monarca", que não poderia ter contestada suas decisões, sob pena de severas punições. Funcionários do Hospital Padre Zé eram compelidos a acatar as ordens de Egídio, mesmo sabendo que manifestamente ilegais, para não serem prejudicados com uma demissão empregatícia. O perfil de ditador também foi destacado nos depoimentos colhidos, principalmente de que "tudo deveria ser do feito dele"", diz decisão.

A Queda

O GAECO e MPPB, cumpriu no dia 17 de novembro, mandados de prisão em desfavor do Padre Egídio, ex-diretor do Hospital Padre Zé, e mais duas ex-funnaciar Amanda Duarte e Janine Dantas. A operação aconteceu na Paraíba e em Pernambuco.

O religioso se apresentou espontaneamente na sede do GAECO em João Pessoa, após um contato dos agentes com os os advogados do padre. Ao passar pela audiência de custódia, a justiça manteve a prisão de Egídio e ele foi encaminhado para um presídio especial na Capital, onde está sob a disposição da Justiça.

Padre Egídio de Carvalho (Foto: Reprodução / TV Arapuan)

O desvio milionário

De acordo com as investigações do GAECO, o esquema de desvios de recursos públicos é estimado em cerca de R$ 140 milhões. Esses desvios foram operacionalizados através do Instituto São José, responsável pelo Hospital Padre Zé, e da Ação Social Arquidiocesana, e ocorreram entre 2013 e setembro deste ano.

Os atos ilícitos investigados tiveram um impacto devastador em diversos programas sociais essenciais. Entre eles, a distribuição de refeições a moradores de rua, o amparo a famílias refugiadas da Venezuela, apoio a pacientes em pós-alta hospitalar, realização de cursos profissionalizantes, preparação de alunos para o ENEM, cuidados de pacientes com HIV/AIDS, entre outros. Além disso, as operações ilícitas afetaram gravemente o Hospital Padre Zé, comprometendo o atendimento a populações carentes e necessitadas.

Mensagens apagadas

Com a finalidade de se livrar das acusações, o Padre Egídio teria apagado inúmeras mensagens do seu celular antes de estrelar espontânea na sede do GAECO em João Pessoa, diz o documento do mandado de prisão.

De acordo o MPPB, uma grande quantidade de mensagens anteriores de setembro de 2023, foram apagadas, existindo apenas conversas posteriores do dia cinco de setembro de 2023. Além de deletar as mensagens, o investigado também trocou o número do celular durante as investigações.

O Padre Egídio, realizou a entrega dos aparelhos junto com seus advogados, momentos depois em que foi deflagrado a Operação Pai dos Pobres, que investiga o sumiço de aparelhos celulares doados para o Hospital Padre Zé, com a finalidade de serem vendidos ou leiloados para arrecadar dinheiro para serem voltados a unidade de saúde.

Padre Egídio se apresenta ao Gaeco (Foto: SIstema Arapuan)

O que diz a Igreja Católica?

A Arquidiocese da Paraíba, divulgou uma nota, a última sexta-feira (17), que diz estar consciente de suas responsabilidades e compromisso com a transparência e integridade, e cita que está colaborando com as "integralmente com as investigações em curso, respeitando o segredo de justiça estabelecido pelas autoridades competentes", diz pronunciamento.

A respeito de Egídio, a Arquidiocese informou que os procedimentos já foram instaurados. Nessa época o padre foi proibido de realizar missas e eventos religiosos.

"Reforçamos nosso compromisso com a transparência e manifestamos total apoio às autoridades competentes, colaborando de forma irrestrita para que toda a verdade sobre os eventos em questão seja esclarecida", finaliza nota.

Entenda

O Padre Egídio, que atualmente se encontra preso, é investigado por liderar um grande esquema de desvios de recursos e doações do Hospital Padre Zé. Inicialmente, tudo começou quando o próprio religioso denunciou o furto de alguns celulares que haviam sido doados pela Receita Federal, que culminou na prisão de Samuel Rodrigues Cunha Segundo, ex-funcionário do Hospital.

Preso, Samuel delatou o grande esquema de desvios que existiam dentro da instituição de saúde.


Fonte: Paraiba.com.br

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